sexta-feira, 20 de julho de 2012

Onde está Roberto Cacheu?

Onde está Roberto Cacheu?
Foi depois de ter escutado um tal Marciano Indi e de ter lido o “Ditadura do Consenso” cujo artigo transcrevo na íntegra, com o devido pedido de desculpas do seu proprietário e esse destemido jornalista e guineense patriota e convicto, que me dei a cogitar e a levar para a praça pública algumas considerações ou especulações e porque não insinuações pertinentes, para ajudar a levantar um pouco do véu ao ciclo de mistérios que tem envolvido o desvendar de alguns assassinatos na Guiné-Bissau.
Em primeiro lugar vamos colocar à consideração de todos o artigo do “Ditadura do Consenso”:

Tenho lido 'notícias' de que Roberto Ferreira Cacheu foi 'assassinado'. Para poupar atalhos, digo já: não sei se o Roberto Cacheu está morto, se foi assassinado como também não sei se estará vivo. Mas uma coisa eu sei: desde 27 de dezembro último e até viajar para Lisboa (16 de maio) tentei sempre contactá-lo via telemóvel. Somos (fomos?) amigos, falávamos muito mesmo. O telemóvel não dava sinal de tocar sequer. Fi-lo à frente de amigos comuns que estão lá, em Bissau.

Tenho o chamado sentimento de culpa do dia seguinte, para ser franco. Culpado por, pelo menos, não tentar investigar, juntar as peças recolhidas, tentar completar o puzzle. E chamar nomes. E não será hoje que o farei. Para já, as informações em On são por demais contraditórias: enquanto o 'super-ministro' Fernando Vaz confirma, logo o director-geral da Segurança do Estado, e meu bom amigo, Serifo Mané desmente, advertindo: "«Muitas vezes as pessoas usam termos complicados para afirmar certas coisas. O Coronel Lino Lopes, até este momento, não se encontra em nenhuma cela. Ele está na sede da Direção-geral do Serviço de Informação do Estado». Neste sentido, o responsável máximo pela segurança guineense disse que, uma vez havendo informação sobre o eventual desaparecimento de deputado Roberto Ferreira Cacheu, era normal que Lino Lopes fosse convocado pelos serviços por ele antes tutelado.

Mas tem mais. Por outro lado, Serifo Mane informou que a sua instituição não tem a competência para deter uma pessoa. «Falei agora com ele e vi que pode ser visitado e conversar com as pessoas. Está preocupado com a gravidade destas informações que estão a ser vinculadas sobre a sua detenção», disse Serifo Mane. Interrogado sobre o paradeiro do deputado Roberto Cacheu, Serifo Mane disse que o assunto ainda está coberto de confidencialidade."

Uma coisa é certa: o desaparecimento do Roberto Cacheu é evidente, mas há certas coisas que não batem certo. Como pode alguém - com igual ou mesmo menos visibilidade que tinha o Roberto Ferreira Cacheu - desaparecer sem deixar rasto? E todo este tempo? Na Guiné-Bissau? Duvido, conhecendo como conheço as manhas do meu país. Hoje um é Judas, amanhã será Pilatos. Para bom entendedor...

Mais. Como é que, e isto hipoteticamente falando, Roberto Cacheu foi 'assassinado e queimado' e ninguém dar por nada? E o mesmo acontecendo com o pessoal (agentes, ou não) da DG da Segurança do Estado? Seriam todos cúmplices? Veremos. Não acusarei ninguém, menos ainda num assunto de tamanha gravidade e que envolve sangue - eu sou Jornalista. Vou simplesmente aguardar. Mas sempre atento a estas palavras sábias do DG da Segurança do Estado, Serifo Mané, hoje, em Bissau:

"Em relação às queixas sobre as divergências que se verificam no Serviço de Informação, Serifo Mane desmentiu estas informações referindo como exemplo as recentes nomeações, incluindo elementos da anterior direcção. No que diz respeito ao envolvimento de elementos de segurança na vida política, Serifo Mane disse que é altura para os agentes de informação de Estado colocarem um ponto final a estes comportamentos.

«A nível da segurança temos que parar de nos introduzirmos nos assuntos políticos, isto está plasmado nas leis da Guiné-Bissau», disse. Serifo Mane disse que se trata de uma situação grave que acaba de colocar o mérito de muitas pessoas em causa, em detrimento de cores partidárias. Face a esta realidade, Mane é da opinião que deve haver reformas profundas no Serviço de Informação do Estado.", fim de citação. AAS
Publicada por António Aly Silva em 16:50
Acusações de Marciano Indi, dirigente do PRID
O Senhor Marciano Indi, que presumo, um destacado dirigente de um partido político, salvo erro ou omissão, o Partido Republicano para a Independência e Desenvolvimento (PRID) e que afirma ou acusa, entre outras afirmações descabidas ou irresponsáveis, talvez até fruto da sua fraqueza académica e imbuída de uma perigosa ignorância, coisas como por exemplo, que o corpo do malogrado Roberto Cacheu foi queimado depois de assassinado, insinuando ou afirmando perigosamente que havia nesse crime o dedo de Carlos Gomes Júnior e do PAIGC.
O Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) também reage e num comunicado tornado público na comunicação social diz textualmente:

O PAIGC tomou conhecimento, através da comunicação social, do presumível assassinato do Camarada Roberto Ferreira Cacheu, dirigente e deputado integrante do Grupo Parlamentar do Partido.
A confirmar-se essa notícia, tratar-se-á de um crime hediondo e gravíssimo, que o PAIGC repudia e condena com toda a veemência.

O PAIGC exorta às autoridades competentes, ao rápido e cabal esclarecimento deste caso e assegura que estará permanentemente atento à evolução dos inquéritos judiciais.

Afinal onde está Roberto Cacheu?
Enquanto o Governo de Transição pela voz do Senhor Ministro Fernando Vaz confirma, a Direcção-Geral da Segurança de Estado, através do Senhor Director-geral da Segurança do Estado desmente.
Sem sombras para dúvidas, temos que convir que Roberto Cacheu, foi uma das figuras, talvez mesmo a principal figura de contestação à liderança de Carlos Gomes Júnior, quer pelas conferências de imprensa que promoveu e falou, quer através das marchas de contestação onde tomou sempre a dianteira, quer nos documentos e cartas enviadas à justiça e aos organismos internacionais onde a sua assinatura era a principal, não deu sinais de vida desde o dia 26 de Dezembro de 2011 data em que se registou mais uma suposta tentativa de golpe de Estado ou de ajuste de contas entre os militares narcotraficantes e que não se manifestou como se esperava com o 12 de Abril de 2012, data do golpe militar que derrubou Cadogo Jr e apeou o PAIGC por ele presidido do poder absoluto que detinham em todas as instâncias do país.
Meios bem informados e próximos do actual Chefe do Comando Militar que deu o golpe de Estado de 12 de Abril afirmam nos bastidores que Roberto Cacheu foi mandado silenciar porque sabia demais sobre muitos dossiers. Mais ainda, Roberto Cacheu era ainda uma figura muito próxima do Almirante Bubo Na Tchute.
Quando o corajoso e abnegado jornalista guineense se interroga no seu respeitável blog, que aqui reproduzo uma vez mais fielmente neste meu opinar, cito: “Como é que, e isto hipoteticamente falando, Roberto Cacheu foi 'assassinado e queimado' e ninguém dar por nada? E o mesmo acontecendo com o pessoal (agentes, ou não) da DG da Segurança do Estado? Seriam todos cúmplices? Veremos. Não acusarei ninguém, menos ainda num assunto de tamanha gravidade e que envolve sangue - eu sou Jornalista” fim de citação.
Também não deixa de ser importante, que o PAIGC no seu comunicado deixa sem sombra para dúvidas um sério aviso quando afirma, cito “exorta às autoridades competentes, ao rápido e cabal esclarecimento deste caso e assegura que estará permanentemente atento à evolução dos inquéritos judiciais”, fim de citação.
Talvez para ajudar um pouco nas investigações que o Ministério Público deverá, com toda a certeza, levar a cabo, vamos tão-somente relembrar o conteúdo do “Comunicado do Governo” de 26 de Dezembro de 2011.
Recorde-se que numa reunião de urgência convocada pelo Presidente da Assembleia Nacional Popular e que assegurava por interinidade transacional e constitucional a Presidência da República devido aos acontecimentos de 26 de Dezembro de 2011, com o objectivo de esclarecer os factos ocorridos na madrugada desse dia.
Durante esta reunião do Conselho de Ministros extraordinário e presidido pelo Presidente da República de Transição, o Senhor Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas informou as autoridades presentes que um grupo de militares efectuou um assalto ao Paiol das Forças Armadas, sito nas instalações do Estado-Maior do Exército, em Bissau, dele tendo retirado armas e munições que de seguida foram transportadas para o Estado-Maior da Marinha.
Seria o próprio General António Indjai que informaria aos presentes que para além de altas patentes militares, também estão envolvidos neste processo alguns elementos civis, acentuando ainda na sua informação desconhecer as motivações que estiveram por detrás do acontecido, não deixando contudo, de informar que parte significativa deste grupo encontrava-se já detida e que a situação estava já sob o controlo das Forças Armadas, ou por outras palavras, que a situação estava sob o seu total e completo controlo.
Dos elementos militares e civis detidos sob as ordens do General António Indjai, destaca-se a do Almirante Bubo Na Tchute, enquanto que outros se entregaram (Marcelino Simões Cabral, mais conhecido por “Joe” esteve nas masmorras da Policia Judiciária até dias depois do golpe de Estado de 12 de Abril).
De Roberto Cacheu só se soube que desapareceu da cena e se especulava que estava em parte incerta.
Outro presumível envolvido nesse processo, o Major Iaia Dabó, irmão do também assassinado Baciro Dabó, foi igualmente assassinado pelos agentes da polícia quando se preparava para se entregar as autoridades, num acto que se especulou como de vingança pela morte de um jovem agente das Forças de Intervenção Rápida levada a cabo quando estas forças policiais se preparavam para assaltar e prender Roberto Cacheu e os seus presumíveis comparsas entrincheirados na sua residência.
Volvidos todos este tempo, ou seja, de 26 de Dezembro a esta data, vem o Governo de Transição pela voz do Senhor Ministro Fernando Vaz anunciar e confirmar este facto, que muito prontamente a Direcção-Geral da Segurança de Estado, através do Senhor Director-geral da Segurança do Estado desmentiu, sem contudo explicar aos guineenses os reais motivos que levaram a prisão preventiva dos ex-responsáveis pelos Serviços de Informação do Estado no Governo de Carlos Gomes Júnior, nomeadamente, os Coróneis Lino Lopes, Serafim Embaló, Tem-Coronel Candé e outros preponderantes elementos desse departamento e por este andar e com as muitas histórias e os cenários já sobejamente conhecidos pelos guineenses e não só, não é de estranhar que mais este crime seja imputado a Carlos Gomes Júnior.
Vamos colocar alguns elementos para ajudar as investigações a encontrarem algumas pistas, pois urge, na verdade, que se ponha fim de forma imediata a  este ciclo infernal de assassinatos e a preocupante impunidade que existe de facto na Guiné.Bissau.
Assim sendo, vamos ainda recuar um pouco mais no tempo, para recordar que a Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH), exigiu há um mês e meio atrás num comunicado tornado público a libertação imediata do ex-CEM da Marinha militar, Buba Na Tchutu, Watna Na Lai, Kletche Nancanha e demais outros anteriormente acusados de estarem “implicados” no caso 26 de Dezembro de 2011.
A decisão da Liga em pedir a libertação destas altas patentes das FARP foi uma resposta directa às declarações do Comando Militar na voz do seu porta-voz o Tenente-Coronel Dabana Na Walna, segundo as quais, o alegado golpe de 26 de Dezembro de 2011, de que o Almirante Bubo Na Tchutche foi acusado pelo próprio General António Indjai, foi mais “uma inventona”.
E com este anúncio do Comando Militar, a LGDH defendeu na ocasião o facto de ter deixado de haver argumentos legais para a continuação da detenção de alguns oficiais superiores e subalternos das forças armadas da Guiné-Bissau.
Eis o que foi o comunicado da LGDH, que reproduzimos na íntegra: “Em virtude da evolução politica e consequente agravamento da situação dos direitos humanos no país, após ao golpe de estado de 12 de Abril, a Direção Nacional da Liga Guineense dos Direitos Humanos vem mais uma vez, manifestar a sua preocupação face à situação dos detidos em conexão com o caso da alegada tentativa de golpe de estado de 26 de Dezembro 2011, e do acordo político assinado entre diferentes partidos políticos e o Comando militar.
Em Dezembro de 2011, um grupo de cidadãos, incluindo altos oficias militares foram acusados e detidos pelas autoridades militares e posteriormente transferidos para a justiça, tendo alguns já sido acusados pelos crimes de alteração de estado de direito e associação criminosa pelo Ministerio Publico, no passado mês de Março do ano em curso.
Não obstante, as conclusões aduzidas pelas instâncias judiciárias, o Comando Militar tornou público ontem dia 22 de Abril, através de um comunicado à imprensa que a alegada tentativa do golpe de estado, do passado dia 26 de Dezembro 2011, não passa de uma inventona. Com este anúncio, aparentemente deixaram de existir os fundamentos legais e objectivos para a continuação do regime de detenção, em que se encontram alguns oficiais superiores e subalternos das Forças Armadas a cerca de 6 meses.
Por outro lado, no quadro da transição politica que se preconiza para um periodo de 12 meses, o Comando Militar e alguns partidos politicos rubricaram um Acordo Poltico no passado dia 18 do corrente mês, que prevê no seu artigo n 1 alinea d) citamos: “ a adopção pela ANP de uma lei de amnestia em favor dos autores do golpe de estado militar de 12 de Abril de 2012” fim da citação.
Para reavivar a memória dos guineenses e da comunidade internacional, a Assembleia Nacional Popular aprovou no dia 4 de Março 2008, a lei nº 5 / 2008, pela qual foram amnistiados os crimes e infracções de motivações político-militares, cometidos tanto na Guiné-Bissau como no estrangeiro desde a independência até ao caso 6 de Outubro 2004 que culminou com os assassinatos do Chefe de Estado-maior, General Veríssimo Correia Seabra e do Coronel Domingos Barros.
Desde esta altura até à presente data, a Guiné-Bissau assistiu um ciclo vicioso de instabilidade politica e militar ou seja, duas alegadas tentativas de golpes de estado, assassinatos de altas figuras do estado, várias sublevações militares, um golpe de estado e vários outros casos que envolveram os militares e dirigentes políticos, pondo em causa as bases sobre as quais assentam a democracia e o estado de direito, em particular a finalidade e a razão de ser da amnistia. Estes factos demonstram de forma inequívoca que a opção pela via de amnistia na realidade guineense não só consubstancia num desvio aos seus fins, mas também serve de incentivo à institucionalização da impunidade e as violações sistemáticas dos direitos humanos.
Face ao acima exposto, a Direcção Nacional da LGDH delibera os seguintes:
1. Exortar o Estado Maior General das Forças Armadas, enquanto o principal denunciante do caso de alegada tentativa de golpe de estado de 26 de Dezembro de 2012, o maior esclarecimento junto das autoridades judiciárias;
2. Exigir a libertação imediata de Bubo Na Tchuto, Watna na Lai, Clecthe na Incanha e demais outros detidos, em conexão com a suposta tentativa do golpe de estado;
3. Denunciar o acordo político assinado entre militares e partidos políticos pela sua contradição com os desígnios de combate à impunidade e os esforços de consolidação da paz e do estado de direito;
4. Exortar os deputados da Nação e a classe politica em geral no sentido de rejeitarem liminarmente quaisquer iniciativa legislativa que visa amnistiar os autores materiais e morais do golpe de estado do dia 12 de Abril 2012, que causou e tem causado danos incalculáveis ao povo guineense;
5. Exigir mais uma vez, ao Comando Militar, a levantamento imediato da interdição ilegal de viagens impostas a 58 cidadãos.
6. Exigir a cessação imediata das perseguições politicas, bem como da criação segurança aos dirigentes políticos para pôr fim a clandestinidade a que se encontram a maioria deles.
Feito em Bissau aos 23 dias do mês de Maio 2012
A Direcção Nacional”
De seguida vamos apresentar as fotocópias do Comunicado do Governo de 26 de Dezembro.
Que cada um possa tirar as suas ilações:


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